Temporária

Fim de ano, melhor época para arrumar um emprego temporário e conseguir fazer uma grana extra paras despesas que temos com roupas no natal, presentes e festas. Claro que eu não tive nenhuma das despesas citadas porque passei o natal em casa com roupa velha enão troquei presentes. Isso porque, no dia 24 trabalhei até as 18.30, sai super cansada e por incrível que pareça, dormi no onibus e pela primeira  vez perdi o ponto e fui acordar centenas de paradas depois (Isso nunca me aconteceu, sempre acordo antes do meu ponto). Tive que pegar outro onibus de volta e cheguei em casa com a ceia quase pronta e fiquei chateada porque não tinha panettone. 

O fato é que, resolvi trabalhar temporariamente para viajar. Semana que vem vou com uma amiga para o Rio e queria ter dinheiro para sair sem ficar devendo meu cartão no fim da viagem. E apesar de ser por 33 dias, eu não aguentei e fiquei só 27. Mas desses 27 aprendi um monte de coisas sobre mim mesma e sobre a vida e relacionamentos. 

No primeiro dia, em uma loja famosa no shopping, super movimentada já que o natal estava chegando, parecia que eu estava lá há decadas de tanta coisa que havia feito. Mas só havia passado 30 minutos. Eu ainda tinha mais 7 horas e 50 minutos pela frente. No outro dia de manhã nem sentia mais meus pés.

Lembro de quando terminei a semana, achei que foi a semana mais longa da minha vida, ja que no final de semana anterior tinha trabalhado fiscalizando prova do vestibular e praticamente emendei tudo até chegar o outro domingo. Veio uma sensação enorme de que tinha vencido e que era forte. 

Na segunda semana foi marcada por um pé machucado e mancava, mas ja sentia menos dores e comecei a gostar das pessoas e a querer trabalhar lá mesmo, fixo. Eu podia me acostumar, meu corpo vencia o cansaço graças ao fato de ser super saudável e ativa, quase uma atleta, e subir e descer escadas várias vezes e andar para todos os lados e ficar em pé por 7 horas não eram nada para mim. Nessa semana pela manha, consegui ir correr uma vez. Não é o máximo? 

Na terceira semana, cheguei a conclusão de que por mais que tenha aprendido onde ficavam todas as peças, arrumasse todas as mesas direitinho com as roupas milimetricamente empilhadas, atendesse as clientes e aprendesse ao maior parte das tarefas, coisas que fiz, eu jamais seria contratada. E sim, cogitei em trabalhar lá porque a carga horária era metade da que eu estava fazendo e o salário quase o dobro.

E foi então que percebi. Que ninguém ligava para mim, eu era apenas uma temporária. E me dei conta de que eles estavam aproveitando essa mão extra para trabalhar menos e antes mesmo que eu completasse uma tarefa, já tinha ordens para fazer mil outras. Eu não fazia parte do grupo e em alguns dias nem estaria mais ali. 

Quatro semanas exaustivas de trabalho pesaram tanto em mim com uma sensação péssima: Em quantas situações na vida das pessoas ao meu redor eu sou apenas uma temporária? Aproveitam enquanto eu estou perto, mas não querem de fato me 'contratar'? Quantos relacionamentos não foram assim? Não importa o quanto me esforçasse, a pessoa não estava nem pensando em me manter na sua vida mesmo. 

E isso quase que repete aquela história do ensino fundamental, onde eu jamais era a primeira opção para trabalhos  em grupo, por mais que fosse inteligente e fizesse meu trabalho bonitinho, as duplas eram formadas por afinidade e sempre tinha uma alguém mais legal do que eu para formar dupla.

Mas agora é seguir em diante, de temporário em temporário, seja no amor ou no trabalho, tentando me fazer inesquecivel na vida das pessoas, até que um dia eu me torne fixa na vida de alguém.